O brasileiro pode ter que pagar mais caro na gasolina e no diesel muito em breve. Pelo terceiro balanço consecutivo, o preço do petróleo no mercado internacional fechou próximo da marca dos US$ 120, maiores cotações desde março, quando a guerra entre Rússia e Ucrânia ainda estava no início.
Mas, por que essa elevação pode onerar ainda mais o cidadão? É preciso lembrar que a Petrobras adota, desde 2016, a política de Preço de Paridade de Importação (PPI). Portanto, é o preço do combustível importado – com as variações da cotação e do câmbio – que define a base do cobrado nas bombas.
Se a guerra começou em fevereiro, por que justamente agora o barril de petróleo chegou nessa cotação tão alta, de US$ 120? Para responder esse questionamento, a reportagem de O TEMPO conversou com os professores Carlos Primo Braga, da Fundação Dom Cabral, e Paulo Feitosa, docente aposentado da área da economia.
Feitosa lembrou que vivemos um momento de instabilidades desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia. Mas, especulações sobre Putin ampliaram as preocupações.
“Saíram notícias sobre a saúde fragilizada do Putin, de que ele poderia partir para tudo ou nada na guerra. Isso acabaria com a entrada de outras potências, da Europa Central e os próprios Estados Unidos. Isso faria do petróleo mais do que uma arma. Ele viraria a grande moeda que eles (os russos) teriam para tentar algum acordo de paz”, diz Paulo Feitosa.
Apesar disso, o economista lembra que não é só o preço internacional que influencia na conta da Petrobras. Há um segundo critério, que tem trabalhado a favor da população que necessita do combustível.
“Como o preço do mercado internacional é em dólar, temos um segundo fator que é a taxa de câmbio. Para a felicidade nossa, neste momento, enquanto o petróleo está subindo no mercado internacional, o dólar tem caído. Está chegando a R$ 4,70. Uma coisa compensa a outra”, afirma Paulo Feitosa.
Sanções puxam valor para cima
Professor associado da Fundação Dom Cabral, o ex-vice-presidente interino do conselho de administração do Grupo Banco Mundial Carlos Primo Braga aponta outros fatores para a valorização do petróleo no mercado externo. Mas, concorda que a situação do leste europeu protagoniza as discussões no momento.
“A Rússia produz cerca de 10 milhões de barris por dia, mas já reduziram para nove milhões por conta das sanções. A União Europeia anunciou que vai banir cerca de 90% do petróleo da Rússia. Em seis meses para o petróleo bruto e em oito meses para o produto refinado. Isso influencia demais”, diz o especialista.
Carlos Primo Braga lembra que o petróleo dos Urais, na Rússia, já é vendido com desconto de 30% em relação ao bruto pelo “desequilíbrio entre oferta e demanda”. “Parte desse óleo está sendo redirecionado para outros países como Índia e China. Mas, a política de Covid zero da China desacelerou a economia de lá”, afirma.
Quanto à situação do mercado interno, Primo Braga defende a equalização dos preços conforme a cotação do produto importado.
“Se tentarmos fazer como na administração Dilma Rousseff (PT), poderemos ter falta do produto no mercado interno. Empresas que importam não vão querer colocar o produto aqui com um preço inferior ao preço internacional. Isso gera um prejuízo para a Petrobras. Nós, como consumidores, não gostamos de ver o preço da gasolina e do diesel aumentando, mas não há outras alternativas”, defende.