O brasileiro Victor Correa Hespanha, 28, tornou-se, na manhã deste sábado (4), o segundo brasileiro a ir ao espaço. O engenheiro mineiro fez parte da missão NS-21, da Blue Origin, empresa do bilionário Jeff Bezos.
Antes de Hespanha, o único brasileiro a ir ao espaço foi Marcos Pontes, astronauta que ocupou o cargo de ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações de 2019 a 2022. Pontes, a trabalho pela Agência Espacial Brasileira, partiu da Terra em 30 de março de 2006 e ficou no espaço por dez dias —oito deles na Estação Espacial Internacional.
Pouco tempo antes da decolagem, ocorrida em West Texas (EUA), o brasileiro e os outros participantes da NS-21 tiveram uma surpresa. Na cabine de comando, estava o astronauta Charles Duke, um dos homens a pisar na Lua durante as missões Apollo, da Nasa.
“Parabéns por este voo. Sei que vocês terão uma experiência excitante, assim como eu tive há 50 anos”, afirmou Duke aos participantes da NS-21.
Em um vídeo exibido antes da decolagem, o brasileiro disse que olhava para estrelas e sonhava em ser um astronauta. “Eu represento esse sonho para mais de 200 milhões de brasileiros”, disse ele, que levou ao espaço uma bandeira do Brasil, segundo informações da Blue Origin.
Durante coletiva de imprensa depois da missão, Hespanha, com uma camiseta verde e amarela sob o uniforme de voo da Blue Origin, afirmou que talvez tenha vivido o dia mais feliz de sua vida.
“Eu não tenho palavras. Lá em cima foi como se eu estivesse saindo do meu corpo”, afirmou o brasileiro.
Hespanha disse, durante a entrevista coletiva pós-missão, querer compartilhar o que viveu com os brasileiros e, de alguma forma, ajudar e inspirar. “Não sei qual vai ser o método, mas isso queima no meu coração.”
O segundo brasileiro no espaço também disse que ainda não conversou com o primeiro a realizar tal façanha, Marcos Pontes. Segundo Hespanha, porém, já há conversas em andamento para que isso ocorra após o retorno ao Brasil.
Em seu Instagram, o brasileiro voltou a dizer que não tinha palavras para descrever o que aconteceu. “É muito forte”, disse. “Muito emocionante, indescritível, surreal.”
O voo estava programado, originalmente, para 20 de maio, mas acabou adiado por questões técnicas. Neste sábado, após um pequeno atraso, a missão decolou às 10h26.
Quando a missão completava quase 3 minutos, a cápsula se separou do foguete e os membros da missão experimentavam a sensação de microgravidade. Dentro da cabine, era possível ouvir os gritos de comemoração dos passageiros.
Com pouco mais de sete minutos de missão, o foguete já estava de volta à Terra, pousando com sucesso e com possibilidade de ser, mais uma vez, reutilizado.
A cápsula voltou em seguida. Com cerca de 8 minutos de missão, os paraquedas já estavam abertos para trazer os astronautas em segurança de volta à Terra. Com 10 minutos e 5 segundos, Hespanha e os outros tripulantes, tocaram o chão novamente.
Somente às 10h47 os participantes saíram da cápsula, com ajuda de equipes da Blue Origin. Em seguida, começaram a tirar fotos em frente à cápsula.
Como o brasileiro foi parar no espaço
A viagem ao espaço —histórica e breve— de Hespanha ocorre graças a um sorteio conduzido entre investidores da empresa Crypto Space Agency, que adquiriu a passagem. A companhia comercializa NFTs (sigla para Non-Fungible Tokens), algo como uma propriedade única que só existe no mundo virtual.
Hespanha comprou três NFTs da empresa e gastou o equivalente a R$ 12 mil, segundo disse em entrevista ao Tilt, do UOL. Ele já sabia do sorteio que haveria para a viagem espacial e viu isso como um investimento para aproveitar uma possível valorização dos NFTs após a viagem da Blue Origin na qual a Crypto Space Agency havia comprado o assento.
No fim, ele mesmo acabou sorteado para ir ao espaço. Segundo Hespanha, havia menos de 200 pessoas disputando a vaga no sorteio.
Ele é parte de mais um voo de turismo espacial, atividade que se tornou uma realidade —cara— graças ao desenvolvimento de foguetes reutilizáveis.
Além do lugar de Hespanha, outro assento no veículo New Shepard foi destinado a um passageiro que não bancou seu próprio voo: a engenheira Katya Echazarreta. Esse lugar foi adquirido pela ONG Space for Humanity, que está levando ao espaço a engenheira que já trabalhou em missões da Nasa e deve se tornar a primeira mulher nascida no México a deixar a Terra.
A tripulação da nave fica completa com o engenheiro e investidor Evan Dick (em seu segundo passeio de New Shepard, depois de ter voado na NS-19, em dezembro de 2021), o empresário de aviação e piloto Hamish Harding, o empreendedor imobiliário Jaison Robinson e o investidor Victor Vescovo.
A Blue Origin, assim como a Virgin Galactic, faz voos suborbitais, que, basicamente, levam as pessoas para um pouquinho fora da atmosfera terrestre —a ponto de experimentarem a microgravidade e verem a Terra. Após a cápsula onde estão os astronautas atingir o ponto máximo, ela começa a descer na viagem de volta ao solo, que é amortecida por um conjunto de paraquedas.
Além dessas duas empresas, a SpaceX também já fez um mais complexo e histórico voo de turismo espacial, realizando o feito de colocar em órbita da Terra a primeira missão composta somente por civis, a Inspiration4.