O corpo em movimento. Com ou sem música. Solo ou em grupo. Expressão de sentimentos e ideias. Passos ensaiados ou livres. Esta é a arte da dança, celebrada no dia 29 de abril.
Para celebrar o Dia Mundial da Dança, ocorre no Rio de Janeiro o festival O Corpo Negro, um dos maiores festivais de dança do país, que começa neste sábado (28) com apresentações gratuitas de espetáculos criados e executados exclusivamente por artistas negros e negras.
O evento, realizado pelo Sesc-RJ, chega a sua terceira edição com mais de 90 apresentações, shows, mostra audiovisual, oficinas e debates, ao longo de um mês.
Selecionados por meio de um edital público e inédito de dança para todo o Brasil, o projeto O Corpo Negro tem como objetivo fortalecer o segmento, gerar empregabilidade e proporcionar um espaço de visibilidade, além de ser o ponto de partida para maior protagonismo negro na cultura brasileira.
O Corpo Negro é um dos maiores festivais de dança do país. Foto: Divulgação/SESC
Importância
O analista técnico de Artes Cênicas do Sesc-RJ e um dos curadores do festival, André Gracindo, explica que a atual geração de dançarinos negros leva para os palcos as questões sociais do país.
“Temos artistas de uma geração com grande relevância para a cena como Elísio Pitta, Mestre Manoel Dionísio, Carmen Luz, bem como jovens e outros profissionais de todo o país que produzem arte para os nossos tempos, com trabalhos completamente sintonizados com as questões dos nossos dias”, explicou.
O projeto contribui com as discussões sobre o racismo estrutural e a necessária implementação de ações coletivas de outros setores da sociedade, como a educação básica. “Desde a reelaboração dos livros de história que não podem mais representar como heróis os algozes de todas as etnias escravizadas; até as ações no campo simbólico, como a representação positiva da imagem da pessoa negra na cultura e na sociedade de forma geral”, acrescenta Gracindo.
Espetáculos
O festival irá percorrer até o dia 28 de maio sete cidades fluminenses: Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Nova Friburgo, Petrópolis e Volta Redonda . Todos os espetáculos de dança foram criados e serão executados por artistas negros.
Ao todo, 18 espaços desses municípios receberão as apresentações, entre unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc), escolas, universidades e praças públicas. Além dos grupos de dança do Rio de Janeiro, há artistas de mais três estados brasileiros: Bahia, Ceará e São Paulo. A maioria dos espetáculos é inédita.
A abertura oficial do evento, no domingo (29), será às 19h, no Sesc Copacabana, com entrada franca. Com a presença de alguns artistas da programação, a noite terá a performance Ará Dudu, de Aline Valentim e Valéria Monã, em homenagem ao casal Carlos Negreiros, músico e líder da Orquestra Afro-Brasileira, morto no ano passado, e Isaura de Assis, uma das primeiras bailarinas e coreógrafas de dança afro do país, integrante do balé de Mercedes Baptista. A noite será encerrada com o show Mãe África de Awuré.
Destaques
Entre os destaques da programação está a performance de Elísio Pitta, uma homenagem a Ismael Ivo, bailarino e coreógrafo negro, morto em 2021, e que se notabilizou atuando por mais de três décadas na Europa; a estreia do espetáculo Iyamesan, de Luna Leal, numa performance só com mulheres; e Repertório nº 2, com Davi Pontes e Wallace Ferreira, que vem circulando mundo afora com esse trabalho.
O festival terá também uma mostra audiovisual, com dez filmes de longa e curta metragens, de seis estados brasileiros: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerias, Bahia, Alagoas e Ceará.
Durante a mostra será lançado o documentário Congar, que registrou a viagem do grupo de congada Reinado de Nossa Senhora do Jatobá, de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, para apresentação no festival do ano passado. Produzido pelo Sesc-RJ, o filme mostra diferentes gerações da irmandade, que levam consigo os seus ritos e celebram juntos a fé, a memória e o tempo.
Oficinas nas escolas
Também serão oferecidas oito oficinas de dança em espaços escolares. Destaque para as oficinas com o Mestre Manoel Dionísio, um dos maiores nomes do samba carioca, que vai ministrar aulas de mestre-sala e porta-bandeira nas unidades do Sesc em Ramos, Nova Iguaçu e Nova Friburgo. Também haverá cinco palestras com artistas e convidados, que vão discutir nas mesas pautas referentes à temática negra e a dança.
Encerramento
O cantor Xande de Pilares fechará o evento, no dia 28 de maio, às 19h, com um show na Praça Mauá, na zona portuária do Rio, e contará com as apresentações Sambando, do grupo Minas do Samba, e O corpo que habita o terno, com Jefferson Bilisco. Haverá, ainda, uma Feira de Empreendedores, que dará ênfase a empreendedores negros.
Gratuidade
Todos os eventos serão gratuitos, com a retirada antecipada dos ingressos nos espaços com lotação limitada e a programação completa pode ser vista no site do evento.
Dia Mundial da Dança
Instituído em 1982, o Dia Mundial da Dança é voltado para a promoção dessa arte em todo o mundo, além de conscientizar as pessoas sobre o valor da dança em todas as suas formas e compartilhar a alegria que há em movimentar o corpo.
A data foi criada pelo Comitê de Dança do Instituto Internacional do Teatro da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e escolhida por ser o nascimento do bailarino e coreógrafo francês Jean-Georges Noverre. Autor do trabalho Lettres sur La Danse (Cartas sobre a Dança), o bailarino deixou seu legado sobre a expressividade dos movimentos nas apresentações de balé do século XVIII.
*Estagiário sob supervisão de Akemi Nitahara