Segundo a polícia, pelo menos 12 vítimas já foram identificadas, e outras seis aguardam para prestar depoimento. As investigações revelaram que os crimes ocorreram entre 2011 e 2018.
Um atleta amazonense, atualmente com 23 anos, usou as redes sociais nesta segunda-feira (25) para relatar os abusos que sofreu entre os 10 e 14 anos, cometidos pelo professor de jiu-jitsu Alcenor Alves Soeiro, de 56 anos, preso no sábado (23), suspeito de estuprar e explorar sexualmente seus alunos. A vítima compartilhou que o treinador dava remédios para as crianças dormirem e cometia os crimes durante as viagens do grupo.
O professor foi preso na cidade de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, enquanto participava de uma competição com crianças e adolescentes. Segundo a polícia, pelo menos 12 vítimas já foram identificadas, e outras seis aguardam para prestar depoimento. As investigações revelaram que os crimes ocorreram entre 2011 e 2018.
As investigações iniciaram após três lutadores procurarem à Polícia Civil para denunciar Alcenor Alves. A prisão do suspeito encorajou outras vítimas a denunciarem os crimes cometidos pelo professor. Um exemplo é o atleta, hoje com 23 anos, que decidiu compartilhar os traumas que sofreu durante a infância.
“Todas as vezes que eu viajava para competir com ele e outras crianças ele sempre dava banho em todos nós e no final da noite mandava a gente tomar melatonina para dormir bem e, no outro dia, acordávamos com o pênis dolorido, sem saber o que tinha acontecido”, narrou o lutador, que publicou uma sequências de Stories em seu perfil no Instagram relatando os crimes que ele e os outros colegas sofriam.
“Eu e outros amiguinhos apenas tínhamos um sonho de ser campeões mundiais, mas todos nós erámos manipulados e tínhamos que lidar com isso”.
O atleta também contou que o treinador o masturbava, o beijava e praticava sexo oral com ele, enquanto criança. “Eu tinha apenas 10 anos e não sabia o que estava acontecendo. Eu me tremia de nervoso e no final do dia chorava perguntando porque aquilo aconteceu comigo”.
“Ele sempre fez isso com crianças que não tinham uma boa condição. Ele procurava sempre me manipular e falava que me tinha como um filho, me prometia muitas muitas, mas eu era somente mais uma criança que estava sendo abusada em sigilo”, concluiu.
A delegada Deborah Ponce de Leão disse que a atitude da vítima era comum entre os demais, que tinham vergonha de contar o que estava acontecendo para os pais.
“Esses garotos, no primeiro momento, tinham um encantamento pelo autor, uma vez que ele é um professor renomado de jiu-jítsu, mas só depois de um tempo eles perceberam o que realmente estava acontecendo. As vítimas, inclusive, tinham vergonha de contar para os seus pais e esse foi um ponto que precisou ser alcançado pela equipe multidisciplinar”, mencionou a delegada.
O caso
Durante coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (25), em Manaus, a delegada explicou que no dia 12 de novembro, a Depca recebeu uma denúncia sobre o homem ter abusado sexualmente dos seus atletas.
Segundo a delegada, os abusos sexuais eram praticados durante as estadias e na casa do investigado, onde ele as dopava para consumar os delitos. Em alguma das situações, o indivíduo dava banho nas vítimas, que já eram adolescentes, e aproveitava a ocasião para tocar em suas partes íntimas.
“Um dos atletas começou a ser abusado sexualmente em meados de 2018, quando tinha 9 anos. Diante de todos esses relatos, nós angariamos o indício da autoria, a materialidade, e representamos pela prisão temporária dele”, disse a delegada.
“Ele será recambiado para Manaus o mais rápido possível, já estamos trabalhando nisso. Até o momento, temos cerca de 12 vítimas e temos uma média de seis vítimas ainda para serem ouvidas. Possivelmente, depois da prisão do autor, pode ser que apareçam outras vítimas”, falou a delegada.
Ainda conforme a delegada, a equipe de investigação teve acesso a mídias pornográficas envolvendo possíveis vítimas, mas os materiais estão em sigilo. Além disso, há a informação de que o indivíduo pretendia fugir para Dubai.
“Ele chegou a coagir algumas vítimas, às procurando para pedir perdão, e a uma delas, inclusive, o autor chegou a oferecer que ela fosse em seu lugar para a viagem para Dubai. O professor ainda entrou em contato com a mãe dessa vítima, como uma espécie de coação para que a situação fosse abafada”, explicou a delegada.
A defesa do suspeito afirmou que o processo corre em segredo de Justiça e que espera tomar conhecimento dos fatos e das provas apresentadas. Disse, também, que ainda não teve contato com o cliente porque eles está preso em Santa Catarina.
O professor responderá por estupro de vulnerável e favorecimento sexual e está à disposição da Justiça, aguardando recambiamento para Manaus.
Fonte: G1