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Chefs refugiados trazem memórias e pratos de países de origem


Evergreen Okolo quer ser brasileiro. O chef nigeriano conta que já fez o pedido oficial de cidadania. Ele vive há sete anos em São Paulo em uma trajetória cheia de mudanças de rota. “Quando tinha 19, 20 anos nunca ia me imaginar como cozinheiro”, lembra, enquanto prepara arroz jollof para os cerca de 20 convidados do projeto Sabores e Lembranças. A iniciativa é do Instituto Adus, que desde 2010 atua no acolhimento de refugiados e imigrantes no Brasil.

A proposta do projeto é que dez chefs de diferentes países apresentem a culinária típica dos seus locais de origem e compartilhem um pouco das suas histórias de vida. O prato que Evergreen escolheu tem versões em diversos países da África subsahariana. O chef explica que a base é arroz e molho de tomate. Para o público brasileiro, ele fez uma adaptação com pimenta dedo de moça, mais suave do que a habitualmente usada na Nigéria. “Aqui as pessoas não estão acostumadas a comer comida apimentada, como no meu país”, justificou a escolha.

Começo do zero

As explicações em português com sotaque marcado são uma conquista. Evergreen conta que quando chegou ao Brasil a principal dificuldade foi a comunicação. “Eu tive sorte de já ter um parente no Brasil”, diz o jovem de 29 anos, ao relatar que escolher vir para o país seguindo os passos do pai, que também foi aluno dos cursos de português oferecidos pelo Adus. “Mesmo assim foi difícil aprender a língua”, enfatiza. O instituto já ensinou o idioma oficial do Brasil a 5 mil estrangeiros.

A conjuntura econômica da Nigéria foi o que motivou o rapaz a sair da terra de origem. Ele veio em busca do que chama de “base de vida” – serviços públicos, como hospitais e transporte, que funcionem dentro do mínimo necessário. Segundo o jovem, em alguns lugares de seu país de origem, o fornecimento de eletricidade só ocorre em parte do dia. Se não fosse assim, talvez ele tivesse permanecido por lá. “Nunca fui um cara de me aventurar”, diz.

Antes de vir para o Brasil, chegou a cursar três anos de gestão de negócios na África do Sul. Nesse tempo, ainda se imaginava em um emprego burocrático. A escolha pela gastronomia veio de uma falsa visão inicial de que precisaria usar pouco o português, que ainda não dominava logo que chegou ao país. “Mas precisa ler a receita”, comenta sobre como percebeu que a realidade era diferente do que tinha imaginado.

Os pratos que faz hoje com habilidade, só tinha experimentado antes de sair da terra natal. “Minha mãe pegava mais no pé das minhas irmãs para aprender a cozinhar”, lembra, em um tipo de situação no qual enxerga um viés machista na cultura do seu país. “Comecei do zero”, acrescenta a respeito da relação com a gastronomia. Há quatro anos ele trabalha no restaurante do Museu de Arte Contemporânea, ao lado do Parque Ibirapuera, zona sul paulistana.

Toque brasileiro

A mudança de ares mudou um pouco do jeito de ser de Evergreen. “Sempre fui uma pessoa mais reservada, fechada”, diz sobre o período em que ainda vivia na Nigéria. “No Brasil, as pessoas são mais abertas. Com o tempo, fiquei assim também”.

Para a sobremesa, foram servidos bolinhos poff-poff, muito semelhantes aos bolinhos de chuva brasileiro. Outro hábito que Evergreen não tinha na terra natal. “Na Nigéria, não tem o costume de comer doce depois do prato principal”, diz antes de servir os bolinhos cobertos com xarope e coco ralado – um toque brasileiro.

 



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