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Coluna – Fora da Paralimpíada, futebol de nanismo busca visibilidade

O nanismo é um transtorno, com mais de 200 variações, que impacta o crescimento e resulta na altura máxima da pessoa variar entre 1,40 e 1,45 metro. A deficiência é englobada, desde 1976, por algumas das modalidades que integram a Paralimpíada e os Jogos Parapan-Americanos, como atletismo, natação, halterofilismo e badminton. A nadadora Joana Neves e a pesista Mariana D’Andrea, campeã em Tóquio (Japão) no ano passado, são exemplos de atletas de baixa estatura com medalhas paralímpicas pelo Brasil.

Nem todos os esportes paralímpicos, porém, contemplam pessoas com nanismo, assim como há modalidades praticadas por atletas com baixa estatura que não fazem parte do programa dos Jogos, o que dificulta, mais que o normal, a busca por visibilidade e estrutura. É o caso do futebol. Por causa da carência de recursos, a seleção brasileira quase não conseguiu disputar a Copa América, realizada no mês passado, em Lima (Peru).

“É uma luta constante. Se não tivéssemos apoio [logístico] da CBF [Confederação Brasileira de Futebol] e [estrutural] do CBCP [Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos], de última hora, estávamos arriscados a não conseguir viajar”, contou à Agência Brasil o presidente da Associação Brasileira de Esportes para Pessoas com Nanismo (Aben), José Carlos Rosário.

O Brasil é um dos países fundadores da FIFTB (sigla em espanhol para Federación Internacional de Futbol de Talla Baja) e responsáveis pela regulação da modalidade, que, apesar de jogada em uma quadra de futsal, tem diferenças para o esporte dito convencional. Ao invés de cinco, são sete atletas de cada lado. Entre os jogadores relacionados, somente dois podem ter altura superior a 1,40 metro (limitada a 1,49 metro), sendo que apenas um deles pode atuar ao mesmo tempo. Os competidores têm de apresentar um laudo médico, respaldado por um geneticista, constatando o tipo de nanismo.

A Copa América de Lima foi a segunda edição do torneio, realizado pela primeira vez em 2018, na Argentina, país onde surgiu a primeira seleção de futebol de nanismo. Os anfitriões foram derrotados pelo Paraguai na decisão, com o Brasil ficando na terceira posição. O duelo se repetiu na final deste ano, agora com triunfo argentino. Os brasileiros caíram nas quartas de final, justamente para os campeões.

“Para a primeira Copa América foram selecionados atletas de Pará, Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo. Desta vez tivemos atletas de mais alguns estados [nove]. Muitos deles se apresentaram a nós por meio das redes sociais, após a Copa de 2018. Fizemos duas seletivas, três meses antes, para selecionarmos os melhores. Infelizmente, não pudemos levar todos. A comitiva teria 15 nomes, mas levamos dez por causa do orçamento”, declarou Rosário.

Além do futebol

Fundada este ano, a Aben é uma extensão do Projeto Brasa, criado em 2016 para fomentar a inclusão de pessoas com nanismo pelo futebol. Segundo Rosário, a poetisa Sylvia Muñoz Vilcheff, mãe de um dos fundadores da seleção argentina, inspirou a iniciativa nas quadras. A instituição, conforme o dirigente, mantém-se com recursos próprios e um acordo de cooperação técnica foi assinado com o CBCP para assessoria na captação de recursos e incentivos.

“A Aben foi criada justamente para abraçarmos mais esportes. Fomos procurados por pessoas [com nanismo] que perguntavam se havia como praticar outras modalidades e não apenas o futebol. A gente pretende criar núcleos em parceria com clubes e universidades que possam oferecer local e estrutura para as práticas. Tentaremos realmente atender a essa demanda assim que tivermos recursos financeiros”, explicou o dirigente, que vê a entidade como uma potencial federação nacional de modalidades para atletas com baixa estatura, começando pelo futebol.

“Existe futebol de nanismo em vários estados, como Pará, Sergipe, São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. Vamos criar núcleos e daremos orientação a esses times, que serão filiados à associação. Vamos conversar com o CBCP para formatarmos uma Copa do Brasil. Digamos que, em Sergipe, haja pessoas com nanismo que queiram praticar badminton. Em parceria com algum clube essas pessoas vão praticar. Por meio da associação e do clube federado vamos conduzir os atletas a participarem de competições que existem no Brasil”, finalizou Rosário.