O Instituto Cerrados e outras entidades que têm como pauta a defesa do bioma se articulam para criar a Liga das Savanas. O fundador do instituto, Yuri Salmona, informou que o grupo funcionará como um colegiado e que a intenção é receber adesão de representantes de vários países.
Salmona disse que uma das prioridades é a aproximação da China e de países da União Europeia, além de outros interlocutores, para que a liga estimule discussões sobre os critérios adotados na compra de commodities, como a soja e o milho produzidos no Brasil. Para ampliar a rede de contatos, o grupo pretende aproveitar a próxima Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Água.
“Todo mundo consome, seja carne, seja algum produto que tenha soja, e não sabe se esse produto veio de uma área desmatada do Cerrado. Então, a gente precisa fortalecer essa rastreabilidade”, afirmou o pesquisador à Agência Brasil.
Segundo Salmona, o instituto já tem se reunido com autoridades do Ministério da Justiça e Segurança Pública para fomentar debates nesse sentido. Ele destaca que o projeto de criação da liga ainda está em fase inicial e que um dos primeiros passos, fundamental, era a publicação do artigo que demonstra que o Cerrado pode perder 33,9% do fluxo dos rios até 2050, caso o ritmo da exploração agropecuária permaneça com os níveis atuais. A síntese da pesquisa, feita com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), foi divulgada na revista científica internacional Sustainability.
Para Salmona, é essencial que haja o mesmo grau de comprometimento e efetividade quanto às ações de proteção ao Cerrado e à Amazônia. Um dos termômetros para isso é a elaboração e execução do plano de ação para prevenção e controle do desmatamento e das queimadas no Cerrado, mais conhecido como PPCerrado. “Quando a gente fala de desmatamento no Brasil, está falando massivamente de Cerrado e Amazônia”, diz. “Não que os outros [biomas] não mereçam atenção. Merecem, mas perceba que dois componentes trazem a imensa maioria do fenômeno.”
A interdependência entre os dois biomas é outro aspecto que ganha ênfase na fala de Salmona. “Para começar, não existe Amazônia sem Cerrado. Grande parte [da água] que corre no Rio Amazonas nasce nas cabeceiras do Cerrado”, lembra.
“A gente tem um conjunto de ações de proteção da Amazônia que não são replicadas no Cerrado. O que acontece? Acaba ocorrendo um efeito de fuga, de vazamento da intenção do desmatamento da Amazônia para o Cerrado, e a gente tem que proteger a Amazônia, sim, e o Cerrado, na mesma medida. Não fazer isso significa que as pessoas não entenderam a importância do Cerrado para elas e para a própria Amazônia”, finaliza.