Assunto na edição atual de “Power Couple”, “No Limite” e no “Big Brother Brasil 22”, o machismo é frequente em debates e rodas de conversa dos realities pela internet. Desde diminuir a capacidade de uma mulher lutar pelo grande prêmio até a valorizar atitudes misóginas de homens nos mesmos programas, participantes mulheres sentem que estão em desvantagem nos programas.
Nos últimos realities exibidos na televisão aberta, situações de machismo foram apontadas pelo público. Nos gritos de Hadballa contra Brenda Paixão no “Power Couple”, nos votos em mulheres nos portais de “No Limite”, nas atitudes de Arthur Aguiar e a final formada por elenco 100% masculino no “BBB 22”. O machismo está mais claro agora ou os realities sempre valorizaram os homens?
Para responder a essa pergunta, o iG Gente entrevistou Angélica Morango, participante do “BBB 10”, Deborah Albuquerque, vice-campeã do “Power Couple 5”, e Mileide Mihaile, ex-A Fazenda 13.
Segundo Morango, o machismo não é novidade. Para ela, o preconceito com mulheres começa na estrutura do programa. “Não há equidade nas provas, por exemplo. Disputei algumas de resistência estando menstruada, usando absorvente íntimo. É muito mais difícil competir sem igualdade de condições, e ainda assim fui bem. Tantas outras participantes conquistaram provas de resistência e até venceram o reality”, afirma. Para ela, isso prova que mesmo sofrendo machismo, as mulheres são “muito aguerridas”.
Além das provas, Mileide sente que sofreu com o machismo, pauta de “A Fazenda 13”. “A sensação era de que vários participantes homens se sentiam mais confortáveis na posição de liderança e não aceitavam mulheres com opiniões fortes”, comenta.
Mileide, que foi casada com Wesley Safãdão, relembra que encarou mulheres com discursos machistas no programa da Record. “Eu, especificamente, senti algumas atitudes machistas vindas até de mulheres contra mim. Citando meu passado, minha relação com o meu filho, e me abalou muito. Não esperava que isso fosse levantado, principalmente por mulheres. Mas tudo faz parte do processo. Algumas até me pediram desculpas”, comenta.
Deborah Albuquerque acredita que esbarrou no machismo fora do “Power Couple” por ter uma postura forte. “As críticas são sempre mais duras com as mulheres, eu tive muitas críticas e haters por ‘trocar chumbo’ em brigas. Acho que sim, as mulheres são criticadas, são chamadas de baixas, de tudo que é nome. No caso de um homem, é visto como natural, que ele é um jogador”, pontua.
“Mulheres acabam se prejudicando mais no pós-programa”
O machismo não afeta as participantes apenas durante o reality, mas também no pós. Situações como as de Karol Conká e Laís Caldas, que enfrentaram ataques de ódio após as participações no “Big Brother Brasil”, são cada vez mais comuns a cada reality.
Para Mileide, o machismo sempre existiu, mas a questão crucial nos realities é como a sociedade se posiciona. “Existem casos onde o público abraçou a causa e existem casos onde outras pautas acabaram entrando em prioridade”, analisa. Somos muito mais julgadas, cobradas e atacadas assim que deixamos o reality. Isso é um fato. Independentemente se tivemos uma aceitação positiva ou negativa, a mão é sempre mais pesada nas mulheres”, lamenta.
Mileide pensa que “os homens são perdoados, ou até esquecidos, de uma maneira mais rápida”. A dançarina e ex-A Fazenda pensa que o machismo coloca as mulheres em armadilhas. “Ou ele nos cala e nos coloca na posição de submissas ou ele nos dá potência e nos coloca na posição de agressivas. Precisa ter uma inteligência emocional muito afiada para conseguir sair dessas situações sem perder ou afastar o público do jogo”, pontua.
Para Angélica Morango, as mulheres devem fazer muito mais para ter o mesmo reconhecimento que os homens. “Em programas de TV, as participantes têm ainda que enfrentar o julgamento de outras mulheres e isso é muito problemático. Por exemplo, se um cara transa num reality, ele é ‘o gostosão’. Se uma mulher transa, ela é ‘a piranha’. Um mesmo comportamento é visto de maneiras completamente diferentes”, comenta.
Deborah lamenta que as mulheres jogadoras são rotuladas como grosseiras. “Quando um homem joga, é jogador, quando uma mulher joga, é julgada. A mulher é subjugada sim. Ainda existe isso, infelizmente. Eu torço para realities com mulheres campeãs e com atitudes bacanas sendo celebradas. O ‘Famosas em Apuros’ ganha ponto por isso, por valorizar a força das mulheres do programa”, analisa a influencer, que participou do reality de aventura da Record.
Futuro é desanimador
Após Thelma, Jojo Todynho e Juliette, o cenário dos realities é de valorização da força masculina e críticas às atitudes femininas. Angélica até lamenta a mudança de cenário de uma edição do “BBB” para outra. “Quando eu começo a pensar que há uma mudança, tenho uma desagradável surpresa na edição seguinte. Num ano uma mulher forte e talentosa como a Juliette se sagra campeã e no outro ser o Arthur Aguiar não faz o menor sentido”, afirma.
Para a ex-BBB 10, a “hipocrisia é celebrada” atualmente. “De uma hora para outra, mulheres fortes passam a ser vistas como arrogantes — nessa edição aconteceu com a Jade, por exemplo. Mas um personagem extremamente contraditório em suas falas e atitudes é visto como o baluarte das virtudes”, lamenta.
Mileide pensa diferente. Para ela, o importante é a narrativa construída no reality, não a bandeira defendida. “O Rico venceu na minha edição apoiado por Jojo Todynho. Não acho que a vitória de um participante seja a vitória de uma determinada bandeira. É a vitória da narrativa construída. Se ele defende as causas minoritárias ou não, acredito eu, que seja apenas um complemento da jornada, não o foco central”, reflete.