Em estudo publicado nesta sexta-feira (10) no periódico The English Historical Review, pesquisadores divulgaram a descoberta do navio Gloucester — um dos mais famosos do século 17, encalhado em um trágico incidente há 340 anos, enquanto carregava o futuro rei da Inglaterra, James Stuart.
Devido ao tempo de reconhecimento e proteção do perigoso local do naufrágio, em águas internacionais na costa de Norfolk, no Reino Unido, só agora o navio se tornou público. Os restos de seu casco foram vistos submersos na areia em 2007 pelos irmãos Julian e Lincoln Barnwell, junto de seu falecido pai, Michael, e dois amigos.
A busca pelo barco demorou quatro anos até finalmente os irmãos o encontrarem. Depois, recuperou-se o sino do navio, utilizado em 2012 pelo Receptor de Naufrágios e pelo Ministério da Defesa inglês para identificar a embarcação.
O Gloucester encalhou em um banco de areia em 6 de maio de 1682 e ficou desde então semienterrado no fundo do mar. O veículo marítimo foi protagonista de um acidente que quase matou o herdeiro católico do trono protestante em um momento de grande tensão política e religiosa na Inglaterra.
O barco inaugurado em 1654 fora selecionado para transportar James Stuart, naquela época duque de York, a Edimburgo para buscar sua esposa grávida e familiares. A ideia era trazer a realeza de volta à corte do rei Carlos II em Londres a tempo do nascimento de um herdeiro masculino legítimo. O barco então partiu de Portsmouth, encalhando às 5h30 daquele 6 de maio a cerca de 45 km de Great Yarmouth.
O duque havia discutido com o capitão pelo controle do curso do navio, e a situação acabou mal. A embarcação afundou no banco de areia submerso dentro de uma hora, matando centenas de tripulantes. O futuro rei abandonou o barco no último minuto, mas, por sorte, sobreviveu.
As investigações mais recentes no Gloucester revelaram diversos artefatos do naufrágio, incluindo roupas, sapatos, equipamentos navais, pertences pessoais e várias garrafas de vinho — uma delas com um selo do brasão da família Legge, que foi ancestral de George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos.
Devido aos artefatos, à idade, ao prestígio e à condição do veículo, Claire Jowitt, especialista em história marítima da Universidade de East Anglia, apelidou o achado como a descoberta marítima mais importante desde o Mary Rose, o único barco “sobrevivente” entre os navios de guerra Tudor do século 16.
“A descoberta promete mudar fundamentalmente a compreensão da história social, marítima e política do século 17”, afirma Rose. “É um excelente exemplo de patrimônio cultural subaquático de importância nacional e internacional. Uma tragédia de proporções consideráveis em termos de perda de vidas.”
De acordo com Jowitt, os pesquisadores irão tentar descobrir as vítimas ainda não identificadas no naufrágio e contar suas histórias. Uma grande exposição com os artefatos do navio também está planejada para ocorrer de fevereiro a julho de 2023 no Norwich Castle Museum & Art Gallery, na cidade de Norwich.